segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Insuficiência das Palavras


Fiquei a escutar minha própria voz
Ecoando através dos ventos,
Perpassando pessoas e compreensões

Fiz uma leitura a meu respeito.
Uma interpretação atenta, detalhada
E passei a discursar sobre mim

Mas eram apenas vocábulos vazios
Diante de poucos que podiam assimilá-los.
Calei-me frente ao abismo expressivo.

Li poemas em olhares inefáveis,
Dialoguei sem verbalizar
E entendi perfeitamente.

As palavras são incapazes!
Pobres poetas merencórios e desesperados
Que recorrem a tais para externar suas emoções!

Versam sobre dor, paixão e nostalgia...
Como se pudessem suas penas arrancar-lhes o horror.
O susto constante que é regozijar-se pela vida
Ou entregar-se ao lamento.

Vai...
Se tiveres a coragem para isso.
Entrega-te à genuína poesia,
Prova uma dose mais forte
Dessa visão intensa e perturbadora
E descobre, então, o que são palavras autênticas.

Ah! Homens vazios os que possuem apenas a língua!
Vede quantos olhares e quantas exclamações
Fazem-se ouvir em meio ao silêncio!
Não sabeis que nada se diz
Quando teu sentimento não é visceral?

Caso entendas o que digo, dê-me a tua mão.
Mostra-me que não falas apenas a mesma língua vil de todos.

Neste afã instintivo em informar-te
Acerca dos desvairados que renderam-se
A registrar fatos inundados de sentimentalismo,
Rebentou-se um poema! Desabrochou.

Esgotei minha ânsia de uma poesia
E, creia, sinto-me mais leve agora.
Não duvides disso, não te prendas aos meus paradoxos...

Talvez minhas palavras bastem em si mesmas.
Talvez sejam suficientes, enfim.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Marcaram o Papel em Branco


Ousei.
Arrisquei a ponto de desejar ansiosamente
Pretendia compor estrofes agudas, incisivas

Li e reli minhas linhas
Meus traços firmes
Que marcaram sem dó alguma o papel

Contei inverdades a mim mesma
A fim de encontrar um ponto de partida...
Um início, uma frase singela
Que servisse como entrada para tudo que vivia preso em mim

Produzi sem medos ou receios, amiúde
Resgatando pensamentos não sei de onde...

Talvez do subconsciente
Lá onde habitam memórias, desejos
Terreno desconhecido, impossível a olhos nus
Revelações acerca do verdadeiro "eu" do sujeito...

Desejei, então, uma dose de silêncio
O silêncio que me permitia o espaço
A consciência de ter um lugar para preencher com pura poesia!

E quando ela cessasse?
E se chegasse ao seu fim?
Sendo o mundo infindo,
Permaneceria rabiscando meus versos imaginados...

Confortava-me saber que pus-me a desenhar tal mundo
Usando letras, formando retratos linguísticos...

As frases que calei, aprisionei.
Mas elas metamorfoseavam-se
E partiam, enfim
Deixando-me a admirá-las, estupefata
Quando nem sequer olhavam para trás...

Estava num estado diferente dos demais
Indizível, diria eu.
Sentido-me possuidora dos vocábulos...
Sentia-os com tamanha intensidade
Que assombrava-me a idéia absurda de não os ter

Estar de mãos vazias...
Sem meus traçados e esboços
Ainda que se resumissem à minha realidade
E fosse úteis para preencher os meus silêncios
Campos férteis...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Vida que Necessitou de uma Lágrima


Será um homem?
Perseguindo a sobrevivência
Massacrado pela realidade inexorável
Chutado e posto à margem da dignidade

Que lágrima é essa?
Persistente, insistente
Lágrima solitária a regar o chão rachado
De onde poderia vir tão estimada demonstração de dor?

Eis o homem a falar:
Tornei-me um retrato do quê?
Criatura humana que pensei ser...
Perdi-me em meio ao que me cercava
E meus pés, cansados, agora recusam-se a prosseguir
Põem-se contra mim...

Sou resultado do determinismo
Ah!... Resgata-me alguém de ser bicho!
Tenho sede, fome e dor!

Esperança fugidia, onde estás?
Partistes para cenários cheios de vida?
Embebidos em água corrente...

Consciência inconsciente que me toma
E arranca de mim, violenta e veemente,
Qualquer brilho que eu pudesse abrigar...

...

Recorrer à escrita é libertar-se
Gritemos, pois, em palavras!
Sangremos o papel!
Fazendo jus ao que aconteceu...

Está a literatura mesclada com o sofrimento
Daqueles que partiram em direção ao nada
E encontraram-no...
O grito silencioso do povo fez-se arte!

E palavra é VIDA
Embora, neste caso
As palavras sejam amargas, duras, frias...
Secas.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Construção Social da Juventude

Trabalho de Sociologia do Colégio Cândido Portinari (2010)

Ser jovem é sinônimo de carregar um desejo pulsante de transformação, tanto no plano particular, quanto na coletividade. Os jovens vivem, há muitos anos, numa constante busca pelo novo e por ideais. Ter liberdade, vencer limites, transpor barreiras, exigir direitos; tudo isso se encaixa na definição do que é juventude.

Lembremo-nos, para exemplificar, do contexto do Regime Militar, iniciado em 1964. Quer tenhamos vivido essa fase, quer não, com certeza, estamos cientes dos exemplos de coragem e determinação demonstrados pelos jovens estudantes da época, que marcharam em protestos pelas ruas, deixando claras a insatisfação e a revolta que os moviam. E quem se atreveria a dizer que aqueles manifestos não foram relevantes? Era a voz do Brasil, que teimava em falar, enquanto os militares exigiam uma sociedade muda! Era, de fato, a juventude mostrando que tinha força e poder.

Hoje, não é diferente. Há que se reconhcer a existência de moças e rapazes omissos. Não apenas na realidade brasileira ou mundial, mas até mesmo em suas próprias vidas. Vivem demasiado ocupados com o trivial, enquanto a vida real, por assim dizer, se desdobra em múltiplos acontecimentos notáveis. Entretanto, os jovens de "pulso firme" permanecem mostrando-se presentes, questionando, defendendo, opinando, enfim, tentando alterar o que não lhes parece bem e manter o que tem sido positivo e proveitoso. Sempre inovando em sons, vocabulários ou vestimentas, a juventude sabe se expressar e se fazer ouvir.

O que é necessário para que a sociedade tente dar seus passos à frente? Pessoas conscientes, críticas, não acomodadas, tais como nossos jovens de ontem e de hoje. Cidadãos que busquem, acima de tudo, agir e sentir como seres humanos. São necessárias pessoas que carreguem com esses jovens o que já dizia o escritor José Saramago: "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam".