domingo, 28 de agosto de 2011

Sobre as Cercas


Ler o livro "O Menino do Pijama Listrado" e não se emocionar ou refletir é impossível, e creio que não haja exceções para essa regra. É verdade que o enredo é triste, causa raiva e uma dor incômoda. Mas digo e repito quantas vezes for necessário: entregar-se a essa história é uma experiência incrível que, de fato, vale à pena.

O autor nos transporta a um período conhecido, repleto de conflitos e muito sangrento de nossa história: a II Guerra Mundial. Cenário das maiores barbaridades e atrocidades cometidas pelo homem, em busca de ideais "plásticos" e vazios. Período famoso por ter como característica a imposição de grupos de homens sobre outros, arrancando-lhes direitos básicos, a dignidade e até a vida (qualquer semelhança com os nossos dias, talvez não seja mera coincidência). Não obstante, o clima desolador gerado pelo Holocausto é mesclado com algo cativante nesta história, o sentimento mais nobre, puro e capaz de nos fazer enxergar como verdadeiros homens, mulheres e, mais precisamente neste caso, crianças: o amor.

Falar de amor é tocar no âmago desta obra. Porque é falar no que foi capaz de tornar duas pessoas, que pareciam muito diferentes, iguais, apesar de terem sido rotuladas de maneiras distintas. Um era o filho do soldado e, portanto, tinha o direito à vida e aos bons tratos. O outro, judeu e, como nós muito ouvimos falar em aulas de história, vítima do anti-semitismo, da exploração, dos abusos e dos resultados de ter sido colocado numa posição inferior. Mas o lado poético disso tudo está no que eles dois foram capazes de fazer: ignorar o que lhes era imposto como verdade - principalmente Bruno, por ter ouvido falar que os judeus eram inimigos, maus, culpados do insucesso da Alemanha na I Guerra... - e abrir espaço para uma amizade que não via limites, barreiras ou perigos que fossem grandes demais.

Separados por uma cerca, os dois se viam sempre. Cerca essa que pode ser vista como uma metáfora para o que a humanidade é capaz de fazer: segregar, dividir, tornar melhor ou pior, privilegiado ou miserável... Triste poder que o mundo tem de pisar os outros, sejam eles judeus ou o que forem - vale lembrar que os judeus formavam apenas um dos grupos que sofreram e foram mortos durante a guerra. Pior do que olhar para trás, para os anos que se passaram e lamentar, é reconhecer que HOJE temos motivos de olhar ao nosso redor e deplorar também: mundo vil.

Portanto, é a mais pura verdade a mensagem que se encontra na orelha do livro: cercas como essa podem ser encontradas no mundo todo. E, como o autor, eu também espero que você nunca se depare com uma delas...

(2010)

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