domingo, 11 de abril de 2010

Cotidianamente


Às 5:30 toca o despertador. Notavelmente desejando permanecer na cama por mais algumas horas, levanto. O rosto que me olha através do espelho parece um pouco confuso, ainda é cedo. Cada um com seus compromissos e responsabilidades, eu não sou a única a estar levantando. Trabalho, escola, faculdade. Não há lugar para onde fugir, é a rotina. Arrumar-se, dar um "bom dia" ansioso para que o dia seja mesmo bom, agradecer por ter o privilégio de poder acordar e ver o sol que esquenta a manhã fria invadindo a casa - e, se for a chuva, que ela lave e leve embora tudo que não nos serve mais - ver quem eu amo sorrindo e, à minha espera, está um dia inteiro. Sair e encarar o mundo lá fora. As coisas positivas, as negativas, as cobranças, a correria... As expressões felizes de quem gosta de mim, as expressões um tanto indecifráveis de quem eu não conheço, ou não me conhece. Observar todos que me cercam discutindo as notícias que estão na primeira página do jornal, perseguindo o tempo - como se implorassem para que ele se estendesse -, acelerando o passo, tomando fôlego. É preciso respirar fundo e espantar o cansaço, a vontade de fechar os olhos e voltar a sonhar. Ganhar motivação, dar um impulso... E ir tocando o barco, SORRINDO. Estamos vivos, afinal.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Aforismo


“E não é que neste mundo tem cada vez mais gente e cada vez menos pessoas?”

(Mafalda - de Quino)

Encontrei essa frase da Mafalda numa proposta de redação e amei. Achei que valia um texto (não necessariamente uma dissertação), porque ela diz a verdade de uma maneira tão simples que chega a surpreender. Soube que isso se chama "aforismo", isto é, quando, em poucas palavras, dizemos algo que causa grande impacto. Essa, de Quino, causa um impacto maior por ser uma verdade tão triste. Sim, nosso mundo já possui mais de seis bilhões de moradores e o número só faz aumentar. Paralelo a isso, aumentam também a indiferença e a maldade, que são apenas parte da rotina atual. Com certeza, a Mafalda tinha razão quando, de certa forma, disse que "gente" e "pessoas" são inversamente proporcionais. Quanto mais gente, menos pessoas. Quanto mais gente, mais marcas (muitos transformaram-se nelas), mais desejos egoístas, mais somos bombardeados por propagandas, mais crueldade, mais egocentrismo, mais falta de amor e empatia. Estão todos muito ocupados com a beleza física, em seguir os "padrões", em chegar na frente, em vestir-se bem... Os interesses se sobrepõem, seja no contexto que for, e calam a voz do humanismo. Porque fazer um bom nome deixou de significar ser visto como alguém que se importa com o outro, que ajuda, socorre, que diz com sinceridade que ama. Ter um nome hoje é conquistar um bom emprego, ganhar dinheiro aos tubos, ser amplamente reconhecido, estar entre os que fazem parte da "alta sociedade", e por aí vai... Para conquistar tudo isso, as pessoas (digo, toda essa gente) vão passando por cima dos outros, atropelando quem surgir na frente, sem compreender uma questão importante: quem ou o quê realmente são? Não deveríamos viver numa competição sobre qual de nós é o melhor, porque isso não faz sentido algum e, quanto mais nos comparamos e queremos ser melhores e estar à frente dos outros, na verdade, mais nos afundamos numa espécie de areia movediça desumana.

Vez por outra paro para observar o que tem acontecido. Vejo desastres naturais aos montes (2010 que o diga), famílias sendo separadas forçosamente por consequência da criminalidade, a fome assolando povos, doenças espalhando-se e muitos, por amor à grande dádiva da vida, lutando para vencê-las, dificuldades financeiras obrigando famílias a viver com menos de um dólar por dia... De repente, olho para o outro lado e vejo tudo aquilo que já citei e que resume-se em uma palavra: futilidade. Mas me consola a esperança e a certeza de que, um dia, todos serão DE VERDADE. Por enquanto, sigo repetindo:

Onde esconderam-se as pessoas? Já chega de tanta gente!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Janela para a Desconstrução


Vivemos preocupados com os rumos da humanidade, a maldade do homem, a violência, o desrespeito, enfim... A cada dia, um novo acontecimento surge para nos assustar e indignar, nos deixar perplexos. Mas uma questão relevante me vem à mente quando paro e reflito no que motiva tanta gente a agir como qualquer coisa, menos pessoas. Chegamos em casa do trabalho, da escola, do que for e, com um ato quase involuntário, ligamos a televisão. Basta isso e a janela está aberta, a escola que funciona dentro de nossas casas entra em ação e passa todo tipo de idéias, conceitos e comportamentos de forma sutil. Não estou me referindo à alienação que a mídia é capaz de causar, ou às opiniões que ela é especialista em moldar, de acordo com seus interesses. A preocupação, neste caso, é ainda maior: são os valores que perdem-se nessa tela que manda e desmanda, é a educação que preferiu esconder-se diante de tantos absurdos e são os resultados disso tudo, que nos fazem tanto mal e estimulam péssimas atitudes.

O filme aborda a violência. O reality show faz parecerem aceitáveis as intrigas, ofensas, inimizades, rixas, competições vorazes (imagine só, as confusões já são até mesmo causadas propositadamente, afinal, dá ibope!). A novela desvaloriza o casamento, a relação entre pais e filhos, a amizade. Se estamos em busca desse tipo de entretenimento, há algo errado em nós. A televisão ocupou um espaço que não a pertence, faz confusão, toma nosso tempo, muitas vezes, com coisas desimportantes e exerce influência (quer aceitemos isso, quer não) no nosso dia-a-dia, em nossa vida. Influência essa que pode ser muito negativa.

Mas é claro que podemos encontrar programas que edifiquem, de alguma forma. Também é importante manter-se atualizado, com uma visão crítica acima do que é dito para nós. E divertir-se, obviamente, é necessário, mas com responsabilidade e usando de bom critério. Vamos gastar tempo no que é saudável e manter a televisão em seu devido lugar. Prestando atenção, saberemos a melhor hora de fechar a janela.

sábado, 3 de abril de 2010

No País dos Sonhos

Foto: Tim Burton's Alice in Wonderland

Tens tu a coragem
De entregar-se a um sonho?
Viver novas experiências
Mergulhar na própria imaginação?

Enxergar-se uma criança
Capaz de alcançar qualquer lugar
Por mais alto e inalcançável
Que o mesmo pareça ser

Seguir sem medo
Conhecendo novos mundos
Dando vida a personagens
Envolvendo-se em histórias

Não quero voltar agora
Encontrar-me novamente
Num mundo de pessoas crescidas
Que deixaram as fantasias de lado

Que optaram por deixar para trás
As experiências colossais
De quem é capaz de sonhar

Quero descobrir lugares incríveis
E as criaturas que os habitam
Destrancar a porta
E não olhar para trás

Prazer, criatividade
Vamos nos conhecer?

Ao Redor


Cercam-me infinitas coisas
Muitas impenetráveis
Indecifráveis
E que faço eu
Diante de tudo?

De cada mínimo detalhe
Retiro uma parte
Faço minhas próprias leituras
Cálculos, interpretações
E onde estou em meio a tanto?

Em que possível linha deste texto
Encontro-me?
Estou à minha procura
Acredito que tenha simplificado-me demais
E agora, diante de tudo que me cerca,
Vejo-me pequena em tamanho

Porém, maior em pensamento

Fotografei o que havia ao meu redor
E não me vi na imagem
Onde estava eu?
Dentro de mim

De mim para fora