segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rebentação



A beleza havia, de fato, sido capaz,
Violenta e ousadamente capaz
De caber num quadro...
Num pequenino e tão modesto quadro.

Juntava-se e ia mostrando-se
Tanto quanto podia,
Sem qualquer esforço...
Mas, ainda assim, com bravura colossal.

Autêntica beleza que nos cerca
E, quando pensamos que não,
Aí então é que mais cabe em nossas mãos!

Potência curiosa, que posso eu diante de ti?
Erguer-me em meio a raios ofuscantes,
Redescobrir-me a cada dia parte ínfima
De um universo que, ao meu lado,
Reduz-me tanto...

E que, de tanto ser maior e melhor e mais forte,
Me tem como parte intrínseca.
Complementando um cenário, desconhecido cenário,
Composto do que no quadro dos meus olhos marca infinitamente...

Por mais que tentemos
E nos esforcemos...
E por mais que ultrapassemos
Todos os limites das nossas próprias molduras
Será um trabalho válido, mas, que pena, em vão!

Eis que tudo é realmente maior que nós,
Para que cresçamos, então, em outras direções!

Almejei fazer-me e reinventar-me poeta,
Sei que naturalmente, num ato quem sabe epifânico, talvez...
Por notar possibilidades que a mim se apresentam
E que sempre, sempre fogem do unidirecional
E suplantam-me em enormidade!

Mas, concomitantemente, fazem-se possíveis e capturáveis
Sem que neguem, também, uma infinita grandeza,
É quase um prêmio de consolação, que nos diz:
- Ah... Nota também tua imensurável beleza!

Ps: E eu que não tinha certeza sobre o nascimento de mais um poema...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Regresso Lírico do Poeta


O poeta peregrinava
Por entre os espaços abandonados
Da estação...

Tinha suspiro de encanto eterno
E não havia como mudar;
Estava incumbido...
Uma responsabilidade tamanha!
Cantar um mundo de palavras ocas.

Não raro deparava-se com as expressões
De uns ou outros transeuntes
Que, estupefatos, não se reconheciam na canção.

Mas o poeta persistiu, incessantemente
Em desbravar os becos mais inexplorados
Que compunham a alma humana...

A essência de todos - e eram tantos!
Que cruzavam seu caminho,
Sem despertar a consciência
Do impacto que seus passos causam
Num ser simples e aflito de poeta.

Sim... Um choque, um assombro!
Um viver surpreendendo-se
De novo e de novo com a vida e consigo mesmo...
Um fato deveras irremediável.

Quando, um dia, o poeta, sem querer, cessou,
Tudo pareceu estagnado.

E as cores atenuaram-se gradativamente,
Enquanto o dia cedia espaço
À uma inebriante falta de luz...
Versos e estrofes permaneceram calados,
Assistindo ao hiato.

Era preciso que o Sol retomasse seu calor,
Ver o brilho ousado de uma Lua imperiosa...
Era preciso recobrar os sentidos,
Despir-se por completo dos impasses,
Dar lugar à poesia indubitável.

Há o anseio de quem vê e sente com força pungente,
De quem faz-se entender dispensando a explanação,
De quem não há de parar jamais!

Então, voltou ao ser uma satisfação ininteligível
Proveniente do desejo envolvente que consumia-o.
De cenas cotidianas que, lentamente,
Transformavam-se em versos...
Não eram mais que alguns versos.

Oh, enfim, tudo bastava!
Era a poesia, mais uma vez.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Romanticamente Pierrot


Conheces plenamente, Pierrot,
Este sentimento voraz que em ti reside...
Que ele seja, então, firme, incontido.
E altere, inverta, destroce
O que a mim e a ti se apresenta:
Verdade crua e fria.

Perdido em devaneios, vês muito além
Do que isto que teus olhos emolduram!

Transmuta a realidade, por mim, por ti...
Oh! Não és tu um romântico?
Construa-a novamente sem temores,
Sob a tua perspectiva particular.

Mais vale esse mundo que criaste,
Estruturado sobre uma aquarela,
Do que a imagem desbotada
Que te invade a íris a cada manhã.

Estás com lágrimas petrificadas
Sobre o mármore que é a tua face,
Esboçando sorrisos intocados,
Inalterados até o temido choque:

Nada do que vês é verossímil!

Teu mundo de poesia,
Ao transbordar-te,
Não toma a forma do real.
Não há metamorfoses
provocadas por teus versos para além de ti.

Estará teu poema se negando
A misturar-se, unir-se, tornar-se
A verdade do que é dito ou visto?

Agora, contristado, és obrigado a enfrentar
Tuas próprias fronteiras, intransponíveis.

Papel ou mente de um ser onírico...
Pobres sois, crituras perdidas numa fantasia:
Colombina e Pierrot.

Ah, o amor!
Intacto, cristalizado.
Suportará o coração de um ingênuo sonhador,
constantemente a recuar-se, vê-lo em pedaços?

Eis o teu sentimento devastado!
As cores do teu mundo fogem pouco a pouco.
Finita a aquarela era, imaginária...

Quanto a ti, permaneces o mesmo...
Romanticamente Pierrot!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Poesia Concreta Sobre o Efêmero


Meus versos seriam lacrados;
Chave e cadeado a contê-los.
Queria-os seguros, mas dilatavam-se
E tomavam proporções inesperadas.

Tão belos eram, que nem pude contra eles.
O que te disse vinha como surpresa; surpreendente.

E a poesia fez-se entender!
Ao meu redor, ficarão os que a escutam,
Ouvidos atentos, com a novidade eterna nos olhos.
Ouviste que digo o que nem conheço e estranho-me.

Não domino, só construo.
Como quem faz um castelo de areia, utópico,
Sem saber que o oceano tem o poder de reduzi-lo a nada.

Contudo, os meus versos, estes permanecem.
Fazendo frente às intempéries.
Tal qual concreto.

Ah, essa vida poderosa!
Essa sensibilidade instável, quando,
em verdade, instável é a onda violenta trazida pelo ar.
Fora cruel com a construção à beira do mar,
sem ao menos avisá-la.

Mas a minha poesia estará protegida
pela ansiedade de uma criança,
Que descobre a si mesma todo o tempo,
com constante deslumbramento.

Resistindo, edifica-se.
Permanece cara-a-cara com o efêmero.
E haja coragem diante do que passa e finda!
Com rapidez tal que nos assusta...

Apressa-te,
Deixa-me ouvir teus versos vertiginosos.
Tu bem sabes que a poesia não se desfaz,
Caminha longas estradas continuamente.

Portanto, digo-te:
Meu querer é forte, porém, simples e fácil.
Eu quero hoje a poesia que preenche o dia,
palpitando, de tão viva.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pobre País...


Quanta beleza tens tu, Brasil!
Mas, pobre país, não és capaz de ocultar tuas máculas,
Teus filhos pedintes de futuro corrompido.
Tua infância levada embora...
Vede! Tua infância foi roubada, Brasil!

E permaneces aí a olhar?
Como se a violência não fosse contra ti...

Pior que teres ficado sem teu ouro
É te apresentares agora assim.
(Assalto contínuo de tua identidade infante
E da tua venustidade exuberante...)

Teus direitos foram guardados nos bolsos das calças.
O amanhã, vorazes, tentaram devorar.
E cada um, parte pelo todo, prossegue,
Na luta, na rua, na vida. Prosseguem.

Teu verde está a ruir, tuas vidas se desvanescem...
Num grito abafado, nos animais que habitam o asfalto,
Quem és tu? Pobre país...

Se cada linha de uma poesia
É uma linha tortuosa...
Na tua, verde a amarelo fundem-se
Em vermelho vivo, vermelho sangue.

Tornaste-te a arma que cala os necessitados?
A ameaça dos que andam em ruas largas?
Assustados, inseguros, assombrados!
Quão lamantável é ver-te por tais ângulos...

Tua verdade ascende e denuncia
A falta de opotunidade que ofertas,
Os teus discursos imprudentes,
As tuas ordens. Ordens?
Os teus regressos inclementes

País de espaços historicamente violados,
De lágrima exausta a fluir...
Para onde prosseguir?


Ah, pobre país...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Já Imaginou, Amor?


Mil redondilhas por mim proferidas esboçavam-te
Palavras fracas, sem sentido algum.
Tua poesia eu rasguei em pedaços miúdos,
Confrontei-a, duelamos.
Saí vencedora, posto que lá estava ela, destruída.

Quis convencer-me das tuas verdades, mas não podia.
Devia ser medo, receio, um temor profundo...
Já imaginou, amor?
Entregar-se assim, sem rodeios...
Sendo incapaz de notar os impasses, as pedras que se impunham.

O papel permanecia sobre a mesa
De nada mais valia, fora violentado.
Os versos tragados por mim recusavam-se a aceitar o fim trágico.
Ah, esses teimosos versos,
Cheios de caprichos... Esquecê-los-ei.

Demorei a decidir-me nesta situação
Passos em falso fazem muitos perderem o caminho
Mas não havia nada mais que pudesse suportar a carga dessa sensação.

Nem os diálogos, nem as distrações,
Nem mesmo a melodia que emanava do piano.

Mas havia a folha estragada,
Apenas ela mostrara-se forte o bastante
E agora, traída, recolhia-se aos seus pedaços.
Ela podia compreender a relutância inicial de alguns...
Em relação a tudo isso que nos toma, quais humanos.
Podia. Agora eram os cacos.

Oh! Sentimento sublime...
Falo de modo inequívoco contigo mesmo.
Tu, que és ousado ao tomar espaços dentro de nós.
És belo, transcende, transforma!
Mas estás acostumado a ser demasiado bravio.

Admiro-te agora e sempre mais.
Amo-te, no sentido que tens,
Em tuas definições contidas em dicionário,
No âmago pungente da palavra, amor.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Decifra-me


Ah, quisera eu ser uma constante incógnita...
Ininteligível, em alguns momentos,
Para que não fosse fácil me compreender.
Talvez eu efetivamente seja.
Pudera, eis as minhas palavras enigmáticas!
Que compõem uma autognose discreta.
Podes tu me decifrar?
Se fores capaz, peço-te que, por obséquio, guarde segredo!
O que seriam das minhas poesias se eu fosse uma resposta exata?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Bucólica Felicidade


Não eram abastados.
Digo, tinham o necessário, não mais do que isso.
Uma televisão, um rádio de pilha, a geladeira.
(O sentimento...)
Os suprimentos expostos no canto da cozinha.

O programa ruidoso na televisão
Fazia parecer que havia mais gente na casa.

A mulher contava histórias ao filho mais novo,
O pai caminhava pela casa, pondo as coisas em ordem.
Amavam-se e, quanto à isso, não havia dúvidas.

Os filhos mais velhos espalhavam-se...
Alguns conversavam alegremente no último quartinho,
Enquanto os outros brincavam na varanda da casa.

A mulher refletiu, exausta.
Tivera um longo dia, trabalhara demais ajudando o esposo.
O esposo entregou-se a um suspiro profundo, a cabeça quente:
Talvez o alimento não bastasse até o fim da semana.

Sentaram-se ambos em frente à televisão.
Assistiram ao telejornal.
Estupefatos, trocaram olhares, deram-se as mãos.

Sentiram-se seguros alí.
Numa casa modesta e humilde,
Construída com esforço em uma paisagem bucólica.
A luta diária e o suor valiam à pena.

Voltaram novamente os olhos para o noticiário.
Mundo louco, confuso e desumanizado!
Estavam certos todo esse tempo:
Eram mais felizes do que imaginavam.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tudo


Stop.
A vida parou.
Deveras impossível...
É tanto tudo acontecendo!
E em milésimos de segundo esse tudo se transforma...
Transforma-se tão rapidamente que, por vezes, nem sinto.
Parado deve estar mesmo o automóvel, amigo poeta.


(Intertextualidade com C. Drummond)

domingo, 1 de agosto de 2010

A Dor do Menestrel


Ah! Ser versátil...
Mostras teu talento
E a dor que dizes sentir
Veste-te das angústias alheias a ti
E demonstra quem és através de tais...
Se, de fato, fores alguém.

Mas não te apaixones
Não, não caias neste vazio!
Deixa o amor para os donos dos versos
Que, ferozes, preenchem teus lábios
Deixa a angústia e a incerteza para eles...

Disseram-te certa feita
Que românticos não são livres...
Creias, foge enquanto há tempo!

Não sintas que és menor
Por não ter o que é teu divulgado,
interpretado e vivido,
Assim como fazes com os poemas dos grandes!

Volta teus olhos para teu ofício
E não para o amor que não tens
Ou para as inverdades que dizes
Uma vez que não narras teus sentimentos...

Não te faças todo poeta
Permanece como intérprete
Das coisas que precisam ser ditas
Ou tu maldirás o amor por ter-se machucado.

Nota:
Não sabes quanto sofre um trovador.
Não conheces as amarras de ter um coração que não te pertence.
Deixa de ser assim falto de alegria!
Suspira enquanto podes respirar e restitui a tua arte.
Não fiques amargurado por considerar-te vazio. Não és.

Homens apaixonados oscilam em círculos.
Amam, declaram, expõem e fecham-se em si mesmos.
A canção simplesmente acaba.
Enquanto o sentimento permanece sufocador.

Não te voltes, por raiva
Ao escárnio ou ao maldizer!
Fala de amor ao amigo...
Renda-te, sem relutar, ao teu papel.

Enxuga esta lágrima agora. Depressa.
E ponha-se a recitar e cantar os seres amados
E também os que amam...
Para que eu ouça e, imersa, encontre-me, então.

Volta aos versos que não são teus, pulsantes e doloridos.
Esconde os teus para que não padeças...
Volta à tua vida não-vivida,
Contenta-te em ser apenas um menestrel.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Insuficiência das Palavras


Fiquei a escutar minha própria voz
Ecoando através dos ventos,
Perpassando pessoas e compreensões

Fiz uma leitura a meu respeito.
Uma interpretação atenta, detalhada
E passei a discursar sobre mim

Mas eram apenas vocábulos vazios
Diante de poucos que podiam assimilá-los.
Calei-me frente ao abismo expressivo.

Li poemas em olhares inefáveis,
Dialoguei sem verbalizar
E entendi perfeitamente.

As palavras são incapazes!
Pobres poetas merencórios e desesperados
Que recorrem a tais para externar suas emoções!

Versam sobre dor, paixão e nostalgia...
Como se pudessem suas penas arrancar-lhes o horror.
O susto constante que é regozijar-se pela vida
Ou entregar-se ao lamento.

Vai...
Se tiveres a coragem para isso.
Entrega-te à genuína poesia,
Prova uma dose mais forte
Dessa visão intensa e perturbadora
E descobre, então, o que são palavras autênticas.

Ah! Homens vazios os que possuem apenas a língua!
Vede quantos olhares e quantas exclamações
Fazem-se ouvir em meio ao silêncio!
Não sabeis que nada se diz
Quando teu sentimento não é visceral?

Caso entendas o que digo, dê-me a tua mão.
Mostra-me que não falas apenas a mesma língua vil de todos.

Neste afã instintivo em informar-te
Acerca dos desvairados que renderam-se
A registrar fatos inundados de sentimentalismo,
Rebentou-se um poema! Desabrochou.

Esgotei minha ânsia de uma poesia
E, creia, sinto-me mais leve agora.
Não duvides disso, não te prendas aos meus paradoxos...

Talvez minhas palavras bastem em si mesmas.
Talvez sejam suficientes, enfim.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Marcaram o Papel em Branco


Ousei.
Arrisquei a ponto de desejar ansiosamente
Pretendia compor estrofes agudas, incisivas

Li e reli minhas linhas
Meus traços firmes
Que marcaram sem dó alguma o papel

Contei inverdades a mim mesma
A fim de encontrar um ponto de partida...
Um início, uma frase singela
Que servisse como entrada para tudo que vivia preso em mim

Produzi sem medos ou receios, amiúde
Resgatando pensamentos não sei de onde...

Talvez do subconsciente
Lá onde habitam memórias, desejos
Terreno desconhecido, impossível a olhos nus
Revelações acerca do verdadeiro "eu" do sujeito...

Desejei, então, uma dose de silêncio
O silêncio que me permitia o espaço
A consciência de ter um lugar para preencher com pura poesia!

E quando ela cessasse?
E se chegasse ao seu fim?
Sendo o mundo infindo,
Permaneceria rabiscando meus versos imaginados...

Confortava-me saber que pus-me a desenhar tal mundo
Usando letras, formando retratos linguísticos...

As frases que calei, aprisionei.
Mas elas metamorfoseavam-se
E partiam, enfim
Deixando-me a admirá-las, estupefata
Quando nem sequer olhavam para trás...

Estava num estado diferente dos demais
Indizível, diria eu.
Sentido-me possuidora dos vocábulos...
Sentia-os com tamanha intensidade
Que assombrava-me a idéia absurda de não os ter

Estar de mãos vazias...
Sem meus traçados e esboços
Ainda que se resumissem à minha realidade
E fosse úteis para preencher os meus silêncios
Campos férteis...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Vida que Necessitou de uma Lágrima


Será um homem?
Perseguindo a sobrevivência
Massacrado pela realidade inexorável
Chutado e posto à margem da dignidade

Que lágrima é essa?
Persistente, insistente
Lágrima solitária a regar o chão rachado
De onde poderia vir tão estimada demonstração de dor?

Eis o homem a falar:
Tornei-me um retrato do quê?
Criatura humana que pensei ser...
Perdi-me em meio ao que me cercava
E meus pés, cansados, agora recusam-se a prosseguir
Põem-se contra mim...

Sou resultado do determinismo
Ah!... Resgata-me alguém de ser bicho!
Tenho sede, fome e dor!

Esperança fugidia, onde estás?
Partistes para cenários cheios de vida?
Embebidos em água corrente...

Consciência inconsciente que me toma
E arranca de mim, violenta e veemente,
Qualquer brilho que eu pudesse abrigar...

...

Recorrer à escrita é libertar-se
Gritemos, pois, em palavras!
Sangremos o papel!
Fazendo jus ao que aconteceu...

Está a literatura mesclada com o sofrimento
Daqueles que partiram em direção ao nada
E encontraram-no...
O grito silencioso do povo fez-se arte!

E palavra é VIDA
Embora, neste caso
As palavras sejam amargas, duras, frias...
Secas.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Construção Social da Juventude

Trabalho de Sociologia do Colégio Cândido Portinari (2010)

Ser jovem é sinônimo de carregar um desejo pulsante de transformação, tanto no plano particular, quanto na coletividade. Os jovens vivem, há muitos anos, numa constante busca pelo novo e por ideais. Ter liberdade, vencer limites, transpor barreiras, exigir direitos; tudo isso se encaixa na definição do que é juventude.

Lembremo-nos, para exemplificar, do contexto do Regime Militar, iniciado em 1964. Quer tenhamos vivido essa fase, quer não, com certeza, estamos cientes dos exemplos de coragem e determinação demonstrados pelos jovens estudantes da época, que marcharam em protestos pelas ruas, deixando claras a insatisfação e a revolta que os moviam. E quem se atreveria a dizer que aqueles manifestos não foram relevantes? Era a voz do Brasil, que teimava em falar, enquanto os militares exigiam uma sociedade muda! Era, de fato, a juventude mostrando que tinha força e poder.

Hoje, não é diferente. Há que se reconhcer a existência de moças e rapazes omissos. Não apenas na realidade brasileira ou mundial, mas até mesmo em suas próprias vidas. Vivem demasiado ocupados com o trivial, enquanto a vida real, por assim dizer, se desdobra em múltiplos acontecimentos notáveis. Entretanto, os jovens de "pulso firme" permanecem mostrando-se presentes, questionando, defendendo, opinando, enfim, tentando alterar o que não lhes parece bem e manter o que tem sido positivo e proveitoso. Sempre inovando em sons, vocabulários ou vestimentas, a juventude sabe se expressar e se fazer ouvir.

O que é necessário para que a sociedade tente dar seus passos à frente? Pessoas conscientes, críticas, não acomodadas, tais como nossos jovens de ontem e de hoje. Cidadãos que busquem, acima de tudo, agir e sentir como seres humanos. São necessárias pessoas que carreguem com esses jovens o que já dizia o escritor José Saramago: "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam".

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Abstrato


Incertezas mantinham-se ao redor
O que me cercava?
Temia não poder descrever o que via
Estava entre olhares e interrogações
Entre apertos de mão, dúvidas e discordâncias
Estava eu entre os demais

Enquanto meus olhos estreitavam-se
Ajudavam-me a ler as motivações
O que eu queria era interpretar o mundo!
Ter o prazer de explicá-lo minuciosamente
E simplificá-lo, reduzi-lo
Como fazem os estudiosos com suas fórmulas

Teria que caminhar
Sendo parte do que tanto desejava expor
Era o que eu, de fato, almejava...
Exprimir o que via e sentia pulsar
Tudo que já não mais se satisfazia em estar guardado
No meu âmago - inalcançável?

Mas eu estava enxergando o subjetivo
O abstrato
E não havia gramáticos
Que pudessem me ajudar a traduzi-lo
(O abstrato é intocável...
Só se toca a alma do poeta)

Recorri a alguns poemas e rabiscos
Ensaios e projetos de textos
Ralos, insossos, insípidos
Eu ainda precisava de muito mais do que possuía

Construí e reconstruí períodos
Versei sem rimas ou métrica

Tudo era veloz
Queria falar enquanto escrevia
Gesticulava e vivia como num ímpeto

Estava marcada por minhas leituras
Pelos meus questionamentos
Em meus cálculos hipotéticos
Em minha estranha rotina de querer tornar poesia...
O quê?
O meu "eu"?
Os outros?

Não queria a corda bamba
O não saber sobre mim
A falta de domínio a respeito do que me preenchia
Vicissitudes da vida...

Desejava mesmo era falar
De todas as formas que pudesse
Representar, recitar, argumentar
Estar, por fim, esgotada de expressão

Porém, eu não tinha escolha
Estava em busca do invisível do mundo
Das minhas idéias mais absurdas
E não as tinha em mãos tão facilmente
Não eram palpáveis, concretas...
Eram, sim, fugidias

E eu, pobre poeta amadora...
Teria eu perdido muito tempo a procurar?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Personagem Alterada


(O roteiro em mãos)

Examinei os teatros ao meu redor
Pessoas que viviam o que haviam ensaiado

Apresentavam o perfil inalterado
Da personagem já criada

Com fortes traços de personalidade
Choravam ,riam, cantavam...
Interpretavam seus papéis fielmente

Contudo, vez por outra
Alguns seguiam num roteiro
Que havia sido adulterado
Não transcorria naturalmente

Era um outro caminho
Uma recriação dos roteiros já escritos
Uma renovação das intenções
Novos passos em novas estradas

Demonstraram a coragem de alterar
Reescrever, reler, reeditar
Interpretar de uma outra maneira
Era uma nova forma de decifrar os caminhos
Uma reavaliação dos objetivos a serem alcançados

Era, enfim, como escrever uma nova história
Como traçar novas rotas
E enfrentar as tempestades
Que um script não programado traz

Surgiam as dificuldades
Mas talvez fosse recompensador
Sentir, falar, ver ou chorar
As consequências das escolhas realizadas
Que podiam ser refeitas até o último segundo
Antes de terem sido apresentadas

Mas o que o público já vira
Estava guardado na memória
Trazia sua carga emocional
E era muito mais denso
Do que um simples ato de uma peça

Envolvia questões comportamentais
Mostrava os atores (reais) e seus conflitos
Suas dores e angústias
Seus sentimentos e pensamentos
E atestava sobre o que escondia-se no subconsciente

Por um lado, era estar no controle do roteiro
Por outro, era revelar-se e ser lido
Por quem, talvez, não compreendesse a peça
Todavia, afirmei convicta: LEIA-ME!

Horas depois, guardei os papéis
Do que já havia sido apresentado
Deveria prosseguir, ir adiante
Ato II. Cena 1...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Correndo em Mente


Era o que me habitava
Falando, gritando
Tentando se expressar
Em vocábulos
Significantes e significados

Era eu
Por vezes muda, calada
Ou imersa em mim
Ouvindo minha própria voz
Reverberar na mente
Pensamentos e reflexões
Expandiam-se

Sim, quem falava era eu
Sempre eu
Mas o que dizia era a união
De vários mundos em um só
Era uma busca pela plenitude
Pela expressão total
Que só seria possível
Numa simbiose, numa comunhão

Minha voz insistia em falar
Em dizer-me
Eloquente(mente)
O que em minha cabeça se passava
E mais tarde...
Passava novamente

Formaram-se idéias
Formou-se alguém
Que penso ser
Demasiado parecido comigo
Porque era formado dos raciocínios
Que me compunham
Seria meu reflexo em palavras?

Raciocínios que foram costurados por mim
Linha a linha
E podiam ser transferidos para o exterior

Para o mundo exterior

Não me esquivei de fazê-lo
E eis que tudo aquilo que fazia parte de quem sou
Estava à mostra
Exposto, explícito, nu
Os termos, textos e frases
Continuavam a reverberar
Emanavam
Em ondas sem fim

Que podia eu fazer diante de tal coisa?

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sujeitos Equacionados


Variando entre os núcleos
Dos sujeitos e predicados
Aos das células
Que controlam metabolismos
(Metabolismo? Posso ter um?)

Por entre escolas literárias
Trovadores, modernistas, classicistas
Poemas de amor, amigo...

Contestações e protestos
Ecoam pelas ruas
"Abaixo a Ditadura!"

Indivíduos ora pragmáticos
Ora sonhadores
Eram parte das narrativas
Livros que não possuíam o "imã" de atração
Entrando e se fixando por osmose
(Ficamos sem ação)

Informações genéticas
Milhões de trocas de calor
Cuidado com a pontuação...
...Ou alterará o sentido da frase

Repasse, repita, rememorize!

Envolvidos em ciclos viciosos
Cadeias carbônicas
Pontes e ligações sem fim

Choques elétricos para nos reanimar
Gerando, neste caso, um campo divergente

Quais foram as intenções do autor?
Analise. Busque. Descubra.

Sejam notáveis como os produtos...
Talvez o inverso das matrizes
Seja, de fato, o lado correto
Quem pode afirmar com convicção, afinal?
Não deveria ser exata essa resposta?

Será composto o meu sujeito?
Melhor seria uma boa dose de simplicidade!

Número anula número
Até o fim da equação
Onde ambos os lados estarão iguais
E poderão, enfim, ser aceitos pelo sistema

Atenção! Ou será anulado.
Esteja certo:
O prejuízo virá se o resultado não agradar!

Segundos depois, ouviu-se uma voz,
Um sussurro:

- Aguarde, por favor.
Até que os comandos sejam obedecidos...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Em Códigos


Mergulhei em palavras, com palavras
Caminhei com poemas
Descobri poesias
Perdi-me diversas vezes em tal universo e,
Sempre que me encontrava,
Assimilava-me melhor

Apaixonei-me por letras
E segui em novos espaços
Novas cores, novos tons
Construí novas imagens
Transformei o que havia em mim em códigos
Reformulei, reinventei, reintegrei

Não era simples
Nem complexo demais
Era apenas o que fluía
O que vinha de mim
E me chamava a atenção...

Então, juntei-me à caneta
E aos papéis
Declamei versos
Saí por ruas escrevendo em mim
O que estava escrito no mundo

Eram letras de músicas
Declarações de amor
Interjeições e debates
Eram placas indicando os caminhos
Informações esparramadas por todos os lados

Meu novo - ou velho - ofício era parte essencial
De um mundo em constante movimento
Representava ligações
Interrupções, sons

Enquanto eu absorvia
Os códigos transformavam-se
(Metamorfoses contínuas)
Adequavam-se a quem os estava absorvendo
E saíam novos, mudados
Completamente diferenciados

Uniam-se a memórias
Experiências, opiniões
Saíam representando UM MUNDO
Menor a olhos nus
E maior para os olhos da alma
O MEU.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dentro de Mim


E vejo que corre em mim
Um rio perene de lembranças
Desejos e sentimentos
Um misto de encantamento
Com entusiasmo
Diante de tudo que me é apresentado

Paixão em seus muitos sentidos
Interpretações, sensações, corações...
Paixões por pessoas, planos
Cantos, dizeres tantos
Pelo vislumbre do que posso alcançar
Pelo futuro deveras certo
De paz abundante, transbordante

Sim, eu quero
Tú, ele, nós, vós...
Eles não fogem à regra
Conjugo sem limites
Sem barreiras
A enormidade de nosso desejo
Desejo de abrigar no íntimo tudo isso

Um querer infindo, incalculável
Uma vontade inquieta de seguir o curso
Desse rio que desemboca em vida

domingo, 16 de maio de 2010

Ajuste-se ao Som


Em cada instante
Num olhar ou toque
Numa dança
Na expressão de quem compreende
Porque ama, ou ama
Porque compreende

Ajuste-se ao som que nos envolve
Que embala a vida
Desde a mais tenra idade
Nas melodias que ouvíamos
Quando já era hora de deitar-se, fechar os olhos
E renovar-se por completo

Ajuste-se ao som
Seja de um piano, de um amor
Da palavra que corta o silêncio
E faz bem
E traz o bem

Ajuste-se ao som
Para acompanhar os momentos
De forma incessante
O ritmo que não tem fim
Acompanhe-o e entregue-se

O que nos pode acontecer?
Em meio a melodia, de fato, vibrante
De nossas vidas, de nossos amores
De nossos segredos, sabores e dissabores

Diga-me, então
Quem arrepende-se ao final de uma orquestra?

domingo, 11 de abril de 2010

Cotidianamente


Às 5:30 toca o despertador. Notavelmente desejando permanecer na cama por mais algumas horas, levanto. O rosto que me olha através do espelho parece um pouco confuso, ainda é cedo. Cada um com seus compromissos e responsabilidades, eu não sou a única a estar levantando. Trabalho, escola, faculdade. Não há lugar para onde fugir, é a rotina. Arrumar-se, dar um "bom dia" ansioso para que o dia seja mesmo bom, agradecer por ter o privilégio de poder acordar e ver o sol que esquenta a manhã fria invadindo a casa - e, se for a chuva, que ela lave e leve embora tudo que não nos serve mais - ver quem eu amo sorrindo e, à minha espera, está um dia inteiro. Sair e encarar o mundo lá fora. As coisas positivas, as negativas, as cobranças, a correria... As expressões felizes de quem gosta de mim, as expressões um tanto indecifráveis de quem eu não conheço, ou não me conhece. Observar todos que me cercam discutindo as notícias que estão na primeira página do jornal, perseguindo o tempo - como se implorassem para que ele se estendesse -, acelerando o passo, tomando fôlego. É preciso respirar fundo e espantar o cansaço, a vontade de fechar os olhos e voltar a sonhar. Ganhar motivação, dar um impulso... E ir tocando o barco, SORRINDO. Estamos vivos, afinal.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Aforismo


“E não é que neste mundo tem cada vez mais gente e cada vez menos pessoas?”

(Mafalda - de Quino)

Encontrei essa frase da Mafalda numa proposta de redação e amei. Achei que valia um texto (não necessariamente uma dissertação), porque ela diz a verdade de uma maneira tão simples que chega a surpreender. Soube que isso se chama "aforismo", isto é, quando, em poucas palavras, dizemos algo que causa grande impacto. Essa, de Quino, causa um impacto maior por ser uma verdade tão triste. Sim, nosso mundo já possui mais de seis bilhões de moradores e o número só faz aumentar. Paralelo a isso, aumentam também a indiferença e a maldade, que são apenas parte da rotina atual. Com certeza, a Mafalda tinha razão quando, de certa forma, disse que "gente" e "pessoas" são inversamente proporcionais. Quanto mais gente, menos pessoas. Quanto mais gente, mais marcas (muitos transformaram-se nelas), mais desejos egoístas, mais somos bombardeados por propagandas, mais crueldade, mais egocentrismo, mais falta de amor e empatia. Estão todos muito ocupados com a beleza física, em seguir os "padrões", em chegar na frente, em vestir-se bem... Os interesses se sobrepõem, seja no contexto que for, e calam a voz do humanismo. Porque fazer um bom nome deixou de significar ser visto como alguém que se importa com o outro, que ajuda, socorre, que diz com sinceridade que ama. Ter um nome hoje é conquistar um bom emprego, ganhar dinheiro aos tubos, ser amplamente reconhecido, estar entre os que fazem parte da "alta sociedade", e por aí vai... Para conquistar tudo isso, as pessoas (digo, toda essa gente) vão passando por cima dos outros, atropelando quem surgir na frente, sem compreender uma questão importante: quem ou o quê realmente são? Não deveríamos viver numa competição sobre qual de nós é o melhor, porque isso não faz sentido algum e, quanto mais nos comparamos e queremos ser melhores e estar à frente dos outros, na verdade, mais nos afundamos numa espécie de areia movediça desumana.

Vez por outra paro para observar o que tem acontecido. Vejo desastres naturais aos montes (2010 que o diga), famílias sendo separadas forçosamente por consequência da criminalidade, a fome assolando povos, doenças espalhando-se e muitos, por amor à grande dádiva da vida, lutando para vencê-las, dificuldades financeiras obrigando famílias a viver com menos de um dólar por dia... De repente, olho para o outro lado e vejo tudo aquilo que já citei e que resume-se em uma palavra: futilidade. Mas me consola a esperança e a certeza de que, um dia, todos serão DE VERDADE. Por enquanto, sigo repetindo:

Onde esconderam-se as pessoas? Já chega de tanta gente!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Janela para a Desconstrução


Vivemos preocupados com os rumos da humanidade, a maldade do homem, a violência, o desrespeito, enfim... A cada dia, um novo acontecimento surge para nos assustar e indignar, nos deixar perplexos. Mas uma questão relevante me vem à mente quando paro e reflito no que motiva tanta gente a agir como qualquer coisa, menos pessoas. Chegamos em casa do trabalho, da escola, do que for e, com um ato quase involuntário, ligamos a televisão. Basta isso e a janela está aberta, a escola que funciona dentro de nossas casas entra em ação e passa todo tipo de idéias, conceitos e comportamentos de forma sutil. Não estou me referindo à alienação que a mídia é capaz de causar, ou às opiniões que ela é especialista em moldar, de acordo com seus interesses. A preocupação, neste caso, é ainda maior: são os valores que perdem-se nessa tela que manda e desmanda, é a educação que preferiu esconder-se diante de tantos absurdos e são os resultados disso tudo, que nos fazem tanto mal e estimulam péssimas atitudes.

O filme aborda a violência. O reality show faz parecerem aceitáveis as intrigas, ofensas, inimizades, rixas, competições vorazes (imagine só, as confusões já são até mesmo causadas propositadamente, afinal, dá ibope!). A novela desvaloriza o casamento, a relação entre pais e filhos, a amizade. Se estamos em busca desse tipo de entretenimento, há algo errado em nós. A televisão ocupou um espaço que não a pertence, faz confusão, toma nosso tempo, muitas vezes, com coisas desimportantes e exerce influência (quer aceitemos isso, quer não) no nosso dia-a-dia, em nossa vida. Influência essa que pode ser muito negativa.

Mas é claro que podemos encontrar programas que edifiquem, de alguma forma. Também é importante manter-se atualizado, com uma visão crítica acima do que é dito para nós. E divertir-se, obviamente, é necessário, mas com responsabilidade e usando de bom critério. Vamos gastar tempo no que é saudável e manter a televisão em seu devido lugar. Prestando atenção, saberemos a melhor hora de fechar a janela.

sábado, 3 de abril de 2010

No País dos Sonhos

Foto: Tim Burton's Alice in Wonderland

Tens tu a coragem
De entregar-se a um sonho?
Viver novas experiências
Mergulhar na própria imaginação?

Enxergar-se uma criança
Capaz de alcançar qualquer lugar
Por mais alto e inalcançável
Que o mesmo pareça ser

Seguir sem medo
Conhecendo novos mundos
Dando vida a personagens
Envolvendo-se em histórias

Não quero voltar agora
Encontrar-me novamente
Num mundo de pessoas crescidas
Que deixaram as fantasias de lado

Que optaram por deixar para trás
As experiências colossais
De quem é capaz de sonhar

Quero descobrir lugares incríveis
E as criaturas que os habitam
Destrancar a porta
E não olhar para trás

Prazer, criatividade
Vamos nos conhecer?

Ao Redor


Cercam-me infinitas coisas
Muitas impenetráveis
Indecifráveis
E que faço eu
Diante de tudo?

De cada mínimo detalhe
Retiro uma parte
Faço minhas próprias leituras
Cálculos, interpretações
E onde estou em meio a tanto?

Em que possível linha deste texto
Encontro-me?
Estou à minha procura
Acredito que tenha simplificado-me demais
E agora, diante de tudo que me cerca,
Vejo-me pequena em tamanho

Porém, maior em pensamento

Fotografei o que havia ao meu redor
E não me vi na imagem
Onde estava eu?
Dentro de mim

De mim para fora

sexta-feira, 19 de março de 2010

Datas


Existem coisas engraçadas e estranhas, mas que pouca gente questiona ou procura entender. Por exemplo, em dezembro do ano passado perguntaram-me onde eu passaria o réveillon e eu, tranquilamente, respondi: "em casa". Surpreendi os que me questionaram. Em casa? Percebi que ficaram intrigados... "Mas que menina é essa que passa o ano novo em casa?" Devem ter pensado assim. Acho curioso como as pessoas fazem questão de seguir tradições mesmo que, muitas vezes, elas não façam tanto sentido. Sei também que a maioria das pessoas acharia muito mais interessante estar numa festa, ou na rua até o dia clarear do que estar em casa. Minha casa é onde me sinto melhor, à vontade e confortável, portanto, estar nela, para mim, é centenas de vezes melhor do que estar por aí.

Mas o objetivo do texto não é enaltecer minha residência, ou coisa do tipo. É questionar as datas. Não sei quanto a você, mas o fato de todo ano ser a mesma coisa me deixa muito enjoada. Ano novo, carnaval, páscoa, são joão... É um ciclo vicioso que nunca tem fim. Isso porque eu não falei do dia dos pais, das mães, dos avós... Tudo tem seu dia específico. Eu não vejo sentido. Primeiro porque no dia em que eu precisar de uma data para lembrar de meus familiares, para dizer que os amo e sair com eles, então, algo de muito errado estará acontecendo comigo. Felizmente, pertenço a uma família que também pensa como eu, que procura avaliar valores e perceber o que verdadeiramente existe por trás dessas comemorações.

Em segundo lugar, você não acha que o comércio já se aproveita demais de nós, não? Se no Natal você esquece o presente, aí já viu... Problema na certa. Como ninguém vai contestar, o resultado a gente vê quando vai aos shoppings e mal dá pra se mexer. As datas, além de serem um tanto falsas, são uma maneira encontrada pelo comércio para tirar dinheiro de você, trabalhador, que acorda cedo o ano inteiro e vai à luta.

Mas o lado mais cruel disso tudo ainda vem por aí. É aquela parte do "pensei que todos fossem filhos do Papai Noel". Como os privilégios são para poucos, vemos, todos os anos, crianças pedindo dinheiro com aquelas caixinhas decoradas no estilo natalino. Espera um pouco! Tem um erro aí! Se crianças de rua também têm pai no dia dos pais, mãe no dia das mães e vontade de festejar... Tem injustiça nessa história. Elas não podem, porque não têm condições. Enquanto uns esbanjam dinheiro, enchendo as pessoas de presentes (mesmo que durante todo o ano não dêem muita importância a essas mesmas pessoas), outros permanecem na luta de todo dia. A luta pelo pão, pelo cobertor, pela igualdade. E isso é o que mais me dói. Eu, que não comemoro nenhuma dessas festas às quais a sociedade inteira se entrega, sinto pelos que, mais uma vez, ficaram de lado. Não porque eu ache que eles deveriam participar também, mas sim porque nessas horas eu vejo claramente a divisão que insiste e persiste e vejo gente esbanjando com futilidade e, ao mesmo tempo, gente morrendo de fome.

A sociedade está comemorando. Sem saber o quê, sem saber por quê. Não fazem questão de saber se todas essas datas fazem algum sentido, se são realmente o que parecem ser, nem a quem estão agradando... Apenas querem festa. Para muitos outros, se apenas o alimento tiverem em mãos, terá valido o dia, embora saibamos que nem sempre isso é possível.

É por isso que prefiro estar em casa. Evitando tamanha hipocrisia em tempos difíceis.

segunda-feira, 15 de março de 2010

(In) sensibilidade


Já estamos bem conscientes do que tem ocorrido no mundo. Por menor que seja o interesse de alguém em manter-se atualizado, não tem jeito, os acontecimentos chegam até nossos ouvidos em um instante imperceptível. Sabemos que as pessoas andam por aí perseguidas pela violência, onde quer que estejam, castigadas pela fome, humilhadas pela miséria e pelo sofrimento, tão comuns no mundo em que estamos (sobre)vivendo. Se somos suficientemente humanos para desejar profundamente uma solução, não importa à que classe pertencemos... A, B, C (e por aí vai), somos massacrados também. Por ver a deplorável realidade das pessoas no Haiti, que vivem as consequencias de um desastre natural imensurável - caso não saiba, o haitianos tem comido "biscoitos de lama" que, devido a crescente necessidade, vem sofrendo um aumento de preço -, ou as vidas que se esvaem na África, por conta das doenças e da fome, por ver uma família sentada no asfalto, sem ter um lugar seguro e acolhedor para ir, quando sabemos que, assim que desejarmos, poderemos ir pra casa, descansar, nos recolher.

Mas sinto que muita gente se acostumou e se acomodou. Aprendeu a lidar com notícias ruins e a achá-las comuns. Já consegue passar pelo sinal de trânsito sem levar a imagem da criança que deveria estar na escola, mas que está lá, fazendo malabarismos para que, talvez, seus pais e seus irmãos possam se alimentar. Já consegue assistir aos jornais sem sentir-se ferido. Isso me preocupa. Porque a sociedade está deixando de ser humana, de ser gente, de sentir. E está tranformando-se em uma espécie diferenciada, que vive para si, acorda para si, trabalha para si e sente somente a si mesmo (se é que sente alguma coisa).

Temo pelas milhares de pessoas que necessitam de atendimento médico, mas que, por infelicidade, acabaram sendo levadas até um médico mercenário, preocupado com seu saldo bancário, com a cerveja e com o time de futebol. Temo pelos que precisam urgentemente serem ajudados por aqueles que possuem condições de ajudar, mas que não se manifestam, simplesmente porque isso não lhes convém. E tenho vontade, muita vontade, de fazer e ver diferente. Não quero fazer parte dessa nova sociedade, que sofreu uma mutação gênica e não enxerga mais que um palmo diante do seu nariz.

Eu quero ser diferente, porque não me encaixo nesse mundo hostil.

domingo, 14 de março de 2010

Enigma Poético


Vou atrás da poesia
Para que ela não fuja de mim
A passos mais largos que os meus

E onde ela está agora?
Na imagem que preenche meus olhos?
Na canção que escuto agora?
Em mim?

Por que foges vez por outra?
Esconde-se
E ressurge apenas quando tens vontade?
Passam-se dias até que retornes
Dias mudos e comuns

Dias sem projetos que aguardam
Para serem observados
Sem versos, sem contornos
Estrofes inexistentes

Dá uma volta em torno do mundo
Enche a vida de tanta beleza
Onde foi alegrar a manhã?
Que papel encheu de tesouros?
Em minha caneta não estavas tú

Ou, talvez
Seja tudo isso uma confusão
E estejas perdida dentro de mim
Preciso encontrar-te em mim

Esperar-te-ei
Buscarei nas estrelas
E em toda a extensão da terra
Volte, se quiser
Sem poesia a vida já não é a mesma

segunda-feira, 1 de março de 2010

Processo de Involução


Os avanços na área de medicina, os largos passos dados pela tecnologia, a atual facilidade de comunicação... Nada disso me faz acreditar que estamos evoluindo. Mesmo sendo os únicos seres racionais que vivem na terra, somos os mais cruéis, frios, egoístas e bárbaros. Os homens tem prazer em tirar a vida uns dos outros, gostam de ver o que é ruim e pior, de praticar coisas ruins. Não estamos acostumados a nos respeitar, não aprendemos a preservar o meio ambiente e, ainda assim, acreditamos que somos superiores, porque pensamos e possuímos capacidades intelectuais. Acontece que nossas capacidades não estão sendo usadas com a finalidade correta. Ao contrário do que muitos pensam, a verdade é que estamos regredindo sem cessar, num ritmo acelerado. E quer saber? O que faço ao olhar para toda essa sociedade - com seus comportamentos lamentáveis e opiniões deformadas - é sentir pena da grande maioria das pessoas. Tão pequenas e mesquinhas por dentro, aprendendo a dar valor ao que é trivial e passando esses valores completamente distorcidos para seus filhos e netos. E assim, o número de habitantes do nosso planeta continua a crescer, com pessoas desumanas, e pobres em valores. Agem de acordo com a forma como foram criados e tornam-se violentos, agressivos, ganaciosos e materialistas. Acostumam-se a passar por cima dos outros para alcançar objetivos. Exemplos de tragédias causadas pela ação dos homens não faltam. Analisando a história, percebemos que, desde a Primeira Guerra Mundial (1914) até os nossos dias, a violência e a maldade do homem aumentaram em proporções assustadoras e desastrosas. Milhares de vidas foram ceifadas, como se não tivessem o menor valor. Como, então, diante de tudo isso, nos alegrar porque estão chegando novidades aos montes às lojas ou porque o homem chegou à Lua, se nem mesmo em seu próprio planeta ele sabe viver de forma inteligente e pacífica? Não fomos criados para destruir tudo ao nosso redor, não somos máquinas de destruição em massa, mas, infelizmente, até agora essa é a realidade do nosso mundo. Em contrapartida, sermos humanos inclui procurarmos respostas satisfatórias para os acontecimentos atuais, sensibilizarmo-nos ao ver alguém que precisa de ajuda, utilizar nossas habilidades para construir o que será de grande proveito, agir em benefício de outros e aguardar o dia em que as coisas mudarão e nós poderemos olhar ao redor e afirmar com total convicção: "É neste mundo que eu quero viver!"

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Propriocepção


Reconhecer-se como sujeito único, ser pensante, unidade com múltiplas capacidades, capaz de compreender acontecimentos do mundo – por mais extenso e variado que ele seja -, e fazer-se entender. Enxergar-se como indivíduo dono de seus próprios atos, figura singular e diferenciada. O início da própria percepção e da noção sobre o espaço que ocupamos, não apenas fisicamente, mas mentalmente é questionar-se, observar-se. Convívios também evidenciam o papel do sujeito e sua posição. Conquistar, reconhecer e saber lidar com a relação eu-espaço é relevante, é mostrar-se. Exposição de idéias, argumentação, o que guardamos e o que guardam de nós. Conhecer a si mesmo é importante, saber como lidamos com diferentes situações, o que nos afeta, o que em nós afeta aos demais. É importante, porque permite-nos saber como agir e o que nossas atitudes podem provocar. Uma auto–análise é imprescindível, é parte integrante do processo necessário para aumentar em sabedoria. Para cada ação uma reação, cada passo traz um resultado... Resultados, que podem variar a depender de como damos as passadas. E, se possuirmos suficiente conhecimento sobre quem somos, provocaremos reações positivas, teremos resultados gratificantes, manteremos relações estáveis, além de amadurecermos em muitos sentidos. Em resumo, amadurecemos como pessoas quando nos conhecemos. E, a partir daí, estaremos aptos para conhecer o próximo, ser mais compreensivos, mais razoáveis, adaptáveis e, conseqüentemente, empenharmo-nos em manter relações mais fáceis.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O Homem Que Passa


Quem é este homem que passa na rua? Com seus pensamentos, suas idéias, os planos pro futuro. Não reduz-se apenas a um figurante, compondo um cenário cotidiano. É humano, guarda em si sentimentos, dores, paixões, sonhos, pessoas. É uma mente trabalhando, raciocinando, é mais alguém para preocupar-se com os rumos que a humanidade tem tomado. É mais alguém para conhecer a esperança de um futuro melhor. Como já diz velha frase: "Cada cabeça é um mundo". Que espécie de mundo será esse? Será ele colorido e repleto de coisas boas, ou estará esse mundo precisando de ajuda? Segue andando pela rua o homem das incógnitas. Não sabemos quem é, de onde veio, nem para onde vai. Mas sabemos que, assim como eu e você, é alguém que traz histórias para ele preciosas, lembranças de grande valor, palavras que foram ditas através de atitudes, e que marcaram. O que podemos afirmar é que ele, provavelmente, alimenta dentro de si os desejos que movem todos nós: a felicidade, a completude, uma vida mais fácil (em muitos sentidos) e a alegria. Sabemos que o Sol que acorda sobre nós e nos aquece, é o mesmo que acorda sobre ele, sobre todos. Sabemos que, apesar de diferentes e de não nos conhecermos, somos mais iguais do que imaginamos, almejamos coisas semelhantes e, mesmo que muitas vezes não fique claro, esperamos da vida as mesmas coisas. As coisas mais importantes que, bem lá no fundo de quem somos, desejamos de coração. Esse homem que passa na rua poderia ser qualquer um de nós.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Desvende

Cada ser
Um vasto planeta a ser descoberto
Decifrado, solucionado
Cada um com suas ânsias
Vontades
Amores

Somos apenas mais alguns
Em meio a tantos outros?
Ou somos nós um profundo oceano,
De emoções,
De cores,
Sabores?

Vontades não nos faltam
Somos mais complexos do que imaginávamos
Somos de difícil compreensão
Estamos além da razão

Possuímos múltiplas capacidades
Aumentamos o passo
E preparamo-nos para vôos maiores
E mais belos

Somos beleza e mar
Em comportamentos
Ou pensamentos
Completos e, ainda assim,
Há tanto para completar

A verdade é que somos incríveis
Máquinas jamais superadas
Que sentem
Andam
Choram
Amam

E somos, sim
Quem queremos ser
Evidencia-se aí a beleza
Da singularidade
Da individualidade
Do eu
O lívre arbítrio
Que permite-nos escolher

Quem será você?

Limito-me ao que vêem?
Ou vou mais além?
Tenho sonhos
Sentimentos
Mente

Penso

Subconsciente
Que também diz muito sobre quem sou
Sobre quem somos

Tarefa difícil nos compreender...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Dança das Palavras

O teatro tornou-se conhecido
Como “A entrega do pensamento”

Início da peça.
Os aplausos fazem-se ouvir.

Segue como uma dança
Composta de palavras
Encaixam-se
Arranjam-se
Arrumam-se

Estão paradas?
Estáticas?
Ou movem-se elas,
Acompanhando a canção?

Pois digo que, em mim,
Movem-se
Uso-as
Busco-as mais uma vez

E mais outra

Têm beleza própria
Dominam os passos da dança
Refletem demasiada emoção
Oníricas que são

Instrumentos que permitem
A perfeição na hora exata
A mais bela valsa

Escrevem vorazmente
Participo da dança também

Coreografia de palavras,
Não permitam o fim do espetáculo
Nem que as cortinas ponham-se a fechar
Sem que antes possam se mostrar
Componham
Entreguem-se
Mostrem-se!

Vede o tempo que resta!

Mas chega o fim do poema
E as palavras agora preparam-se
Para o grande final

Acabou a dança
E os aqui presentes
Já puderam notar
Sim! É o maior espetáculo que há
Mas que agora despede-se
Com um ponto final.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Esvaziaram-se

As modas atraem pessoas como se fossem imãs. A música que todos cantam, a roupa que todos vestem (mesmo que não achem tão bonita assim), a banda, o artista ou filme de sucesso. É incrível como uma boa parte da população está, ao mesmo tempo, gostando da mesma coisa e, se investigarmos o porquê, veremos que não é porque a música é muito boa, a roupa é linda ou o artista é talentoso. A causa resume-se ao impulso de seguir a maioria. Então chegamos a uma questão relevante: O que forma uma pessoa – escolhas, preferências, atitudes – é o seu interior ou puramente a influência dos outros? Se for o interior, então as preferências refletirão quem a pessoa verdadeiramente é. A bagagem que ela traz na vida – por menor que seja –, como os valores, por exemplo, será determinante nas seleções que ela terá de fazer em meio a tantas e infinitas opções. Entretanto, muitos deixam-se levar pelo que está aí, sendo colocado pela mídia, tocando insistentemente nas rádios até que aprendamos por osmose, sendo visto como algo de qualidade, quando, sejamos realistas, não passam de uma grande bobagem. Essas pessoas esvaziaram-se, onde está o verdadeiro “eu” delas? Aquele que tem personalidade, que não segue os passos de outros, que trilha seus próprios caminhos, com base naquilo em que acredita? Ser preenchido de si mesmo exige coragem. Coragem para nadar contra a maré. Ser paradoxal. Coragem para defender seus princípios, para expor os critérios que devem ser levados em conta quando tomamos uma decisão. Nossas decisões revelarão se baseamo-nos em nós mesmos e no que acreditamos ou nos outros. Mas demonstrar toda essa coragem necessária não é fácil, porque a pressão para sermos todos iguais – velha mania que a sociedade tem de querer encaixotar, por assim dizer, as pessoas - massacra. Como conseqüência, muitos preferem se esvaziar. Perdem-se, assim, em si mesmos.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Tempo

O cenário é o tempo
Lugar de progressos
Regressos
Caminhadas constantes
Caminhos num traço feito à lápis
Ao longo de todo o horizonte

Corridas inacabadas
Batalhas por vir
Acelerando
Ou retrocedendo
Estamos de mãos dadas com o tempo

De mãos atadas

Passa despercebido
Toma momentos
Arranca realidades
Por vezes, é cruel

Sugere mudanças
Realiza-as sem permissão
Escreve, envolve
E mede uma história
Controla durações

Como qualquer cenário,
Chama atenção
Um alarme programado para tocar
Vez após vez

Dá passadas para a frente
Não acompanha-nos
Estamos sempre em frente?
Correndo incessantemente?

Como acompanhá-lo,
Se estamos em nosso próprio tempo
Mergulhados em nossa verdade
Que não precisa ter fim?

Adequemo-nos, então,
Aos segundos
Aos minutos
Aos momentos

Ou deixemos que eles corram
Para onde julgarem ser melhor
Enquanto desfrutamos de algo bom
Que não tem pressa

E que está conservado
Bem catalogado
E programado para resistir
A qualquer corrida de tempo
Que tenha por alvo apagá-lo

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Casinha (ou: Oficina de Idéias Palpáveis)

Descobri uma casinha simples
Que guarda tudo que há de valioso em mim
Não é adornada de enfeites
Nem possui riquezas materiais
Mas nela vive minha capacidade de alcance

Nessa casinha posso viajar
Visitar campos, florestas e pastos
Mergulhar em profundos oceanos
Notar-me no que faço
Ouço músicas e acompanho-as
És linda, casinha
E fostes feita em mim

Nela trabalho e dou origem
Às belezas que admiro
Os pensamentos tornam-se concretos
Embora não sejam facilmente sentidos

Ponho para fora o conteúdo da casinha
A arte e a poesia que me fazem viajar
O meu eu que vive na casinha
Quer agora deslanchar, desbravar
Ultrapassar, desabrochar

Porque já cresceu e amadureceu
Está pronto para ser livre
Invadir muitos lugares
Se estes forem capazes
De guardar tais tesouros
Tão grandes

Tens dentro de ti uma casinha também?
Simples e rica em beleza como a minha?
Transforme-a, então, em arte
E verás quão bom é poder enxergar
O que só sentem os que permitem-se voar

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Entrelaços Humanos

Relações, interpretações
Falas, suposições
Gestos, emoções
Alegria e dor

Ser humano
É tranformar-se em tudo
É ser plural e singular
Ser complexo
Ainda assim,
Reconhecer o poder da simplicidade
Em pensamentos impenetráveis
Atitudes surpreendentes

É ser único
E ser capaz de igualar-se
De enxergar-se
De enxergar

Felicidade acompanhada de êxtase
Canção mesclada com ansiedades
Resultado de esperas

Delicadeza e fragilidade
Dependência que pede compreensão
Paciência

Ser humano
É compor no presente um soneto
Em palavras que acariciam
Tranquilizam

Derramar-se em lágrimas
(Re) completar-se com esperança
É um ato heróico
De quem tem coragem
Para apostar em mais um passo
Sabendo que poderá desmanchar-se
E terá que refazer-se

Entregar-se
E ter em mãos
A entrega confiante do outro

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sobre os Clichês

Num debate sobre redações, textos, vestibulares e coisas do tipo, eis que surgem dúvidas sobre o tão "batido" clichê. Detesto clichê. Empobrece o texto, é comum e usual. Gosto de procurar me expressar de uma forma cada vez mais diferente, do meu jeito, com uma linguegem bem próxima de mim, para que eu e o texto possamos ficar íntimos. Entretanto, nas redações para vestibulares o clichê não é considerado uma coisa ruim e, acredite, é visto com bons olhos. Admito que uso expressões clichês vez por outra, quando é quase inevitável, porque até mesmo alguns temas são assim, comuns. Mas usar com frequência é desagradável, não dá na produção textual aquela pitadinha de sal, digamos assim. O que me disseram foi que, infelizmente, eles precisarão ser usados... por mim. E numa maior quantidade de vezes, para que meu texto se encaixe "nos padrões". "Mas eu não escrevo para me encaixar em padrão nenhum, escrevo pelo prazer que essa atividade me proporciona e pra ser DIFERENTE também!" Não interessa, vestibular é isso aí. Então, depois dessa, entendi: ter que se adaptar para ser IGUAL e ser aceito apenas assim - no caso, por universidades, mas, se achar apropriado, amplie a interpretação - é muito perturbador e é um grande clichê. Estamos nadando num mar de conteúdos, tentando ao máximo manter a cabeça fora da água, expressar-se é uma forma de respirar profundo nessa situação, é mostrar-se frente a tantas coisas que não nos caracterizam, por esse motivo redação encanta, "agora verão como sou, o que sinto, como vejo". Tudo já é tão igual... As pessoas seguem tendências, os vestibulares e concursos estão aí pra nos transformarem e limitarem a nossa criatividade e nossa capacidade, seja em que contexto for. Refiro-me aos textos, porque esse aspecto me chamou atenção e, sim, me incomodou. Essas exigências para que tudo seja padronizado, se não ficarmos alertas, nos farão regredir. Porque ultrapassar limites é ir além, é inovar, sentir-se à vontade para se colocar, estender-se para alcançar o que está distante, evoluir, aprimorar técnicas e com o texto isso é totalmente possível, e é real, se tivermos liberdade para dar nosso máximo. Todavia, se temos que nos preocupar com limites, palavras, regras e regras, nos prederemos a isso e as asas de nossa mente estarão impedidas de voar. O grande clichê nessa história toda é quererem nos fazer iguais, sempre tão limitados.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Questione, então.

Toda criança, em certa idade, tem a fase dos porquês. Os pais observam: "Menino! Tudo você pergunta." Mas, provavelmente, muita gente ainda não parou pra pensar na importância de levantar questões. Perguntamos para satisfazer nossa curiosidade, para aprendermos sobre algo, para compreendermos melhor o mundo. Perguntamos para evoluir intelectualmente e, assim, crescer em pensamentos e atitudes. Perguntamos para não aceitar tudo que nos é imposto, para não se aproveitarem de nossa ignorância, para termos conteúdo. Considere o exemplo: os pais dizem aos filhos o que eles devem ou não fazer, como seria apropriado que se comportassem, naturalmente, os filhos, por sua vez, desejarão saber o por quê. Se a educação dada aos filhos baseia-se em valores e princípios firmes, bem estabelecidos, por exemplo, seria apropriado que eles fossem explicados aos filhos. Caso contrário, como entenderiam porque não devem tomar determinada atitude? Explicações esclarecem as coisas e ajudam na formação, na construção de uma base sólida para a vida. Em outras palavras, são as perguntas que, pouco a pouco, nos constroem. Então, a idéia de que perguntar é coisa de criança que está descobrindo o mundo é equivocada, afinal, ter crescido não necessariamente é sinônimo de sabedoria, mas reconhecer que ainda temos muito a aprender e buscar esse aprendizado, reflete a sabedoria que temos adquirido. Ou seja, precisamos reconhecer nossa pequenez diante de tudo que existe, mas, infelizmente, isso é impossível para muitas pessoas (o orgulho, muitas vezes, interrompe o aprendizado), que acreditam possuírem as respostas de que necessitamos, quando, na realidade, todos nós estamos no mesmo patamar, somos eternos aprendizes. Se, para viver, precisamos aprender, questione, então.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Encontro Casual


Encontrar-me nas idéias e nos pensamentos.
Eu escrevo para despejar quem sou.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A Semana da Ilusão

Sim, é verdade que não gosto de carnaval. Mas não se engane, decidi começar a escrever para expor minha opinião sobre o que vejo, não para convencer alguém sobre o que acho. Porque se tem uma rotina, por assim dizer, que é muito chata é esse carnaval todo mês de fevereiro. Chata não, é uma palavra pequena, pobre e que não expõe com clareza a verdade. A palavra ideal é desajuízada. Carnaval é uma festa assim, desajuízada. Acredito que se enganar faz bem pra algumas pessoas, então, vamos lá! Vamos sair correndo, frenéticos, atrás desse trio elétrico como se não soubéssemos ou não quiséssemos mais nada da vida, e os problemas? Deixa eles para trás. Vamos alegrar aqueles que têm responsabilidades com o país e com as cidades apenas nos permitindo ESQUECER o descaso, o desmazelo. Vamos, além disso, parar tudo. As atividades seculares, os trabalhos, os interesses, as preocupações, a realidade. Meu amigo, a realidade não pára. Paramos tudo por causa de uma comemoração que nem ao menos possui um objetivo. Os políticos investem na cidade pra atrair turistas, que chegam ao montes, deixam uma boa quantia em dinheiro aqui e... nada muda. Os mendigos ainda estão pelas ruas, as favelas estão a perigo, a criminalidade não dá um intervalo sequer. Aliás, perdão, engano meu, muita coisa muda, sim! Chovem notícias de morte - que espalham-se pela boca do povo, afinal, os meios de comunicação mascaram a realidade, têm lá seus interesses... Espantar turista? Pra quê? - "Mas é bom pra se divertir!" dizem muitos. É, se divertir colocando a vida em risco, enquanto uns morrem, outros bebem descontroladamente prejudicando, assim, muita gente, os que vivem seus intermináveis problemas - fome, saneamento básico precário, desabamentos - são colocados ainda mais à margem, as doenças espalham-se... Parabéns, vocês descobriram uma excelente forma de diversão, confusão e alienação.

"Regozijai-vos"

Foto: Watchtower Bible and Tract Society
Fiquei maravilhada com um texto que li sobre a vida. Em apenas um parágrafo o texto diz o que é viver, mas não se contenta com o "viver para ser feliz", vai muito além... Aborda a satisfação de perdoar e ser perdoado, rever sentimentos, solucionar problemas passados, aceitar que não fomos feitos para ser sozinhos (a beleza das relações é incrível) e o mais importante, não fomos feitos para sofrer, nem para aceitar como inexorável a realidade do mundo atual. Aí vem o gran finale do texto, a chave de ouro cravejada de diamantes: "...um final feliz é muito mais que um conto de fadas. É esperança certa. Garantia do amor." AMEI e assino embaixo.

O que é isso, Brasil?

Proposta de Redação do Colégio Portinari (2009)
Baseado no texto de Afonso Romano de Sant'ana

Vivemos em um país repleto de diversidade, mas, até hoje, os negros são vistos como inferiores, e isso é vergonhoso. Eles foram trazidos, escravizados, humilhados e ainda devem lidar com o preconceito racial, tão comum no Brasil. Irônico é querermos fazer grandes planos para um país que ainda não resolveu um de seus maiores e mais ridículos problemas.

Durante muitos anos, o branco fez com que os escravos limpassem sua sujeira, servissem aos seus interesses e vivessem em condições precárias, em lugares inóspitos. A escravidão foi oficialmente abolida, apesar de algumas cenas atuais nos dizerem o contrário, entretanto, infelizmente, muitos hoje permanecem com a mesma cabeça dos brancos que escravizaram, sentem-se superiores. Consequentemente, muitas vezes somos violentados com situações que deixam claro o preconceito ainda existente. Hoje, o negro é o pobre, é o ladrão. Negro bom é aquele "de alma branca".

Nos últimos dias, temos pensado um Copa, Olimpíadas. Dizem os políticos e várias pessoas que é a oportunidade que o país precisava, as mudanças tão necessárias serão, enfim, realizadas. Será mesmo? O Brasil carece de inúmeras mudanças que envolvem dinheiro. Mas existem mudanças que não serão feitas assim, de repente. São elas as mudanças dentro de nós, brasileiros. Essas exigem esforço, tempo, boa vontade e empatia. O preconceito racial, diversas vezes demonstrado por atitudes inconscientes, é uma marca no Brasil. Será um impasse na construção de um lugar melhor.

É preciso repensar as atitudes. Atravessar uma rua porque o negro que vem alí parace ser ladrão não é aceitável. Enquanto esse tipo de coisa acontecer, não adianta Copa do Mundo, seremos sempre parte daquele país onde os cidadãos não aceitam uns aos outros. Um país assim, demorará a crescer e evoluir.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A Busca da Beleza do Corpo nos Dias Atuais

Proposta de Redação da VUNESP (2007)

A busca pelo corpo perfeito tornou-se uma obsessão e já ultrapassou todos os limites do bom senso. É irrefutável que vidas tem sido prejudicadas por causa da pressão para que todos possuam o corpo idealizado. Além da saúde física, a saúde mental também sofre as consequências.

Não raro, os meios de comunicação exibem modelos de corpos, determinando, assim, um padrão a ser seguido. Seguir esses padrões tornou-se sinõnimo de exagero e faz com que as pessoas ponham a vida em risco para que essa suposta beleza seja alcançada. A sociedade tem o poder de fazer os que não seguem esses modelos sentirem-se inferiores. Consequentemente, os riscos trazidos por essa obsessão ameaçam o bem estar de muita gente.

Entre os riscos, podemos destacar distúrbios alimentares como a bulimia e a anorexia, o uso frequente de anabolizantes e o exagero cometido por muitos nas academias. Tudo isso prejudica mais do que muitos imaginam, faz com que uma doença acabe desencadeando outra e, assim, a saúde piora gradativamente. Muitas vezes, os resultados dessas irresponsabilidades são irreversíveis. É válido citar também os danos psicológicos advindos dessa pressão que insiste em manter-se sobre as pessoas. Alguns sentem-se humilhados, diminuídos, dão lugar à depressão e enxergam a própria imagem distorcida, ou seja, convivem com um complexo de inferioridade que os castiga.

Em resumo, a busca exagerada pela beleza do corpo é uma doença, faz um mal imensurável e precisa ser tratada. Se, infelizmente, estamos inseridos numa sociedade que não pesa os prós e contras de suas atitudes, cabe a nós zelar pela nossa saúde. O segredo para um corpo saudável e para viver bem é o equilíbrio.