segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Regresso Lírico do Poeta
O poeta peregrinava
Por entre os espaços abandonados
Da estação...
Tinha suspiro de encanto eterno
E não havia como mudar;
Estava incumbido...
Uma responsabilidade tamanha!
Cantar um mundo de palavras ocas.
Não raro deparava-se com as expressões
De uns ou outros transeuntes
Que, estupefatos, não se reconheciam na canção.
Mas o poeta persistiu, incessantemente
Em desbravar os becos mais inexplorados
Que compunham a alma humana...
A essência de todos - e eram tantos!
Que cruzavam seu caminho,
Sem despertar a consciência
Do impacto que seus passos causam
Num ser simples e aflito de poeta.
Sim... Um choque, um assombro!
Um viver surpreendendo-se
De novo e de novo com a vida e consigo mesmo...
Um fato deveras irremediável.
Quando, um dia, o poeta, sem querer, cessou,
Tudo pareceu estagnado.
E as cores atenuaram-se gradativamente,
Enquanto o dia cedia espaço
À uma inebriante falta de luz...
Versos e estrofes permaneceram calados,
Assistindo ao hiato.
Era preciso que o Sol retomasse seu calor,
Ver o brilho ousado de uma Lua imperiosa...
Era preciso recobrar os sentidos,
Despir-se por completo dos impasses,
Dar lugar à poesia indubitável.
Há o anseio de quem vê e sente com força pungente,
De quem faz-se entender dispensando a explanação,
De quem não há de parar jamais!
Então, voltou ao ser uma satisfação ininteligível
Proveniente do desejo envolvente que consumia-o.
De cenas cotidianas que, lentamente,
Transformavam-se em versos...
Não eram mais que alguns versos.
Oh, enfim, tudo bastava!
Era a poesia, mais uma vez.
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