sábado, 8 de fevereiro de 2014

Do Frescor Efêmero

Imagem: Abdelkayoum Khounfais, "Tempo".

Aqueles eram dias em que as manhãs, jocosas,
Brincavam de entardecer;
A despedida ligeira de uma rima secreta
Abafada por entre os cobertores,
Sentida no tremor das primeiras horas.

Outras vezes, eram as noitinhas que amanheciam,
Cantando alegrinhas.
Acordavam ávidas por segurar o dia ali,
Estanques no acontecimento,
Como quem se agarra a recordações
Que parecem ousadamente se desvanecer.

Entre chegadas e despedidas dos astros,
Ria-me dos periódicos a fazer alarde,
Dos senhores atentos aos fenômenos do clima,
Dos mercadores ansiosos pelas primeiras vendas,
Das propagandas a fazer reluzir a coisa mais ínfima.

Punha as mãos a sustentar o rosto,
Como quem discerne superficialidade e imensidão,
Achando graça de toda aquela coisa.

Mas há tanta juventude ainda...
Como é lindo vê-la cantar sem precisar esforçar-se!
Rápida, fresca, fugidia.

Tão cristalina, vendo-se refletida em lagos narcísicos
Pois reza a lenda assim...
Todavia, com ecos e berros austeros,
Era inegável tamanha vulnerabilidade.

Vulnerável a nós,
Suscetível ao mundo,
Transbordando ainda o brilho de um olhar recém-surgido.
Sabíamos carregar a bandeira flamejante
Que é o vigor de ver surgir a vida.

Mas o susto de viver era ainda mais próximo que a própria sombra,
Acompanhando, mãos entrelaçadas, sem cessar...