segunda-feira, 14 de junho de 2010

Abstrato


Incertezas mantinham-se ao redor
O que me cercava?
Temia não poder descrever o que via
Estava entre olhares e interrogações
Entre apertos de mão, dúvidas e discordâncias
Estava eu entre os demais

Enquanto meus olhos estreitavam-se
Ajudavam-me a ler as motivações
O que eu queria era interpretar o mundo!
Ter o prazer de explicá-lo minuciosamente
E simplificá-lo, reduzi-lo
Como fazem os estudiosos com suas fórmulas

Teria que caminhar
Sendo parte do que tanto desejava expor
Era o que eu, de fato, almejava...
Exprimir o que via e sentia pulsar
Tudo que já não mais se satisfazia em estar guardado
No meu âmago - inalcançável?

Mas eu estava enxergando o subjetivo
O abstrato
E não havia gramáticos
Que pudessem me ajudar a traduzi-lo
(O abstrato é intocável...
Só se toca a alma do poeta)

Recorri a alguns poemas e rabiscos
Ensaios e projetos de textos
Ralos, insossos, insípidos
Eu ainda precisava de muito mais do que possuía

Construí e reconstruí períodos
Versei sem rimas ou métrica

Tudo era veloz
Queria falar enquanto escrevia
Gesticulava e vivia como num ímpeto

Estava marcada por minhas leituras
Pelos meus questionamentos
Em meus cálculos hipotéticos
Em minha estranha rotina de querer tornar poesia...
O quê?
O meu "eu"?
Os outros?

Não queria a corda bamba
O não saber sobre mim
A falta de domínio a respeito do que me preenchia
Vicissitudes da vida...

Desejava mesmo era falar
De todas as formas que pudesse
Representar, recitar, argumentar
Estar, por fim, esgotada de expressão

Porém, eu não tinha escolha
Estava em busca do invisível do mundo
Das minhas idéias mais absurdas
E não as tinha em mãos tão facilmente
Não eram palpáveis, concretas...
Eram, sim, fugidias

E eu, pobre poeta amadora...
Teria eu perdido muito tempo a procurar?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Personagem Alterada


(O roteiro em mãos)

Examinei os teatros ao meu redor
Pessoas que viviam o que haviam ensaiado

Apresentavam o perfil inalterado
Da personagem já criada

Com fortes traços de personalidade
Choravam ,riam, cantavam...
Interpretavam seus papéis fielmente

Contudo, vez por outra
Alguns seguiam num roteiro
Que havia sido adulterado
Não transcorria naturalmente

Era um outro caminho
Uma recriação dos roteiros já escritos
Uma renovação das intenções
Novos passos em novas estradas

Demonstraram a coragem de alterar
Reescrever, reler, reeditar
Interpretar de uma outra maneira
Era uma nova forma de decifrar os caminhos
Uma reavaliação dos objetivos a serem alcançados

Era, enfim, como escrever uma nova história
Como traçar novas rotas
E enfrentar as tempestades
Que um script não programado traz

Surgiam as dificuldades
Mas talvez fosse recompensador
Sentir, falar, ver ou chorar
As consequências das escolhas realizadas
Que podiam ser refeitas até o último segundo
Antes de terem sido apresentadas

Mas o que o público já vira
Estava guardado na memória
Trazia sua carga emocional
E era muito mais denso
Do que um simples ato de uma peça

Envolvia questões comportamentais
Mostrava os atores (reais) e seus conflitos
Suas dores e angústias
Seus sentimentos e pensamentos
E atestava sobre o que escondia-se no subconsciente

Por um lado, era estar no controle do roteiro
Por outro, era revelar-se e ser lido
Por quem, talvez, não compreendesse a peça
Todavia, afirmei convicta: LEIA-ME!

Horas depois, guardei os papéis
Do que já havia sido apresentado
Deveria prosseguir, ir adiante
Ato II. Cena 1...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Correndo em Mente


Era o que me habitava
Falando, gritando
Tentando se expressar
Em vocábulos
Significantes e significados

Era eu
Por vezes muda, calada
Ou imersa em mim
Ouvindo minha própria voz
Reverberar na mente
Pensamentos e reflexões
Expandiam-se

Sim, quem falava era eu
Sempre eu
Mas o que dizia era a união
De vários mundos em um só
Era uma busca pela plenitude
Pela expressão total
Que só seria possível
Numa simbiose, numa comunhão

Minha voz insistia em falar
Em dizer-me
Eloquente(mente)
O que em minha cabeça se passava
E mais tarde...
Passava novamente

Formaram-se idéias
Formou-se alguém
Que penso ser
Demasiado parecido comigo
Porque era formado dos raciocínios
Que me compunham
Seria meu reflexo em palavras?

Raciocínios que foram costurados por mim
Linha a linha
E podiam ser transferidos para o exterior

Para o mundo exterior

Não me esquivei de fazê-lo
E eis que tudo aquilo que fazia parte de quem sou
Estava à mostra
Exposto, explícito, nu
Os termos, textos e frases
Continuavam a reverberar
Emanavam
Em ondas sem fim

Que podia eu fazer diante de tal coisa?