segunda-feira, 25 de julho de 2011

Âncora


A expressão do homem não encobria seu medo,
Seu instante que hesita em avançar
Um passo, um traço, um gesto...
Um modo de não permitir que o presente
Parta abruptamente, deixando-o preso
Em nada mais que seu próprio olhar.

O relógio insistente marca o momento exato
Exige a vida, de fato, quer avançar.

Mas o homem é poeta, tem marcas no ar,
Traça rotas ao luar e não poupa canções!
Ainda que, tantas vezes, pareça estar farto,
De um suspiro cansado, retira bem mais que um recomeçar!

E, em atos singelos, sorri e festeja...
Quase não crê que se enxerga lírico em tudo que há.

Persiste no olhar, esboça teus versos!
Ah! Vejo tanto de nós em tudo que fazes,
Se não soubermos dizer o que aqui se passa,
Ou talvez o que se passa lá fora, independente de nós,
Tú o farás!

Ainda que teus argumentos exijam de ti
Deixar de lado todo esse pragmatismo tão íntimo
E, teimosos, persistam em te levar pelos braços,
Em movimentos etéreos, que te façam, aos poucos,
Ir perdendo esse chão - tão concreto!

Tuas palavras soam como notas...
Notas novas, graves e agudas,
Retiradas de um instrumento impalpável,
Que nenhum desses que vês tem notado,
Exceto quando te pões a tocar...

Deixa ruir o muro que tens construído,
Por temer teus próprios anseios!

Não vês o que há de mais belo em ti?
Apega-te ao traço, ao verso, ao laço... efêmeros.
Não te prendas à realidade como âncora
Essa âncora gélida, estática e forte,
Pelo menos não por enquanto.
Agora é preciso caminhar livremente...