sábado, 26 de outubro de 2013

Alcance

Imagem: Vladimir Kush, "Born to Fly".

Amanheceu melodia
Em seu primeiro sustenido,
Despido de toda inocência!
Meio-dia
E já era orquestra a tocar...

Eu perdia os primeiros lances,
Num submerso de transes
Do que viria a ser...
E foi.
E tem sido.

Suspendam os agudos,
Reiterem a maestria,
Pra que nessa corrida
Eu possa me alcançar.
Alcancemos quem fomos e somos...

Acordes mais finos,
Acorda!
Desperta a minha razão esperta,
Atenta a todos os lados,
Suspeita dos embaraços em que me enfronhei.

Racionaliza comigo,
Depois esquece o que digo
(rápido, sucinto)
E se faz inteiro todo emoção...
Outra vez.

domingo, 13 de outubro de 2013

Micro-Cosmo

Imagem: Salvador Dalí, "Persistence of Time", 1931

Mas o mundo só avança.
Seco.
As casas calam ano após ano
Seus inquilinos.
Falam os jornais, aos berros,
Das pontes que se partiram
Sem que houvesse testemunhas do fato.

Ninguém ousa perturbar a cadeia
Corriqueira da existência.
E os anos te chegam, impiedosos,
Alegando que a data em teus documentos
Vem te exaurindo as forças.

Este universo expande e nos engole
Nos engloba.
Mais que um globo,
É um profundo poço de horas marcadas.

E aqui, como se alça um voo?
De leve impulso,
Que se desmanche
- Abrupto soluço -
No silêncio das horas vagas?

Emudecemos.
E, mudos, sopramos de livre som
A voz suave que vem conosco...
Reconstruo o que ouço
E misturo tudo em ti.

sábado, 12 de outubro de 2013

Ciclo às Avessas

Imagem: Claude Monet, "Tulip Fields in Holland", 1886

Desconversamos as razões
Dos nossos tantos devaneios...
Singela a mistura do que nos inquieta,
Instiga
Atiça
Serestas da noite que o dia traga
E transforma
Em forma abstrata.

Traspassa a mente,
Palpita o peito
(mas sem jeito),
Baixa a cabeça humildemente
E desmente
Tudo que, ao nascer da manhã,
Fazemos adormecer.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Fluxo

Imagem: Vladimir Kush, "Metamorphosis", 2006

Anda,
Derrama teu cheiro
Em meu guarda-roupa

Desfaz tua pose,
Desenrola pu(dores),
Aflui em meus braços
Que assim a gente vai...

Es
cor
ren
do
Len-ta-men-te
Eu e você,
Por todos os cantos de mim.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Alusão Pós-Romântica

Imagem: René Magritte, "A Queda", 1953

Uma porção de mim quer fazer divisão
Do inebriamento que trago
E poder distinguir o que é poesia
Do passado e do momento.

Não canto com romântica entonação,
Com as rimas que me antecedem;
Nasci no pós-moderno
E as cantigas de dor estão castigadas
Pelos ponteiros das grandes cidades,
Tiquetaqueando ditatorialmente.

Mas se a vida é uma ordem,
Que de pronto tenha início uma insurreição
Desse tempo enregelado,
Que nos paralisa até o piscar dos olhos.
Tenho ânsias de outonos, não obstante de ver arder minha pele
Como em outra estação.

Quero anunciar o presente com orgulho,
E espero vê-lo tocando e aconchegando,
Sem dó,
O que digo.

O coração que vos fala foi acostumado de más maneiras.
Foi amiúde bajulado pelo sentimento de uma época
Que sonhou viver
Em que a ordem seria sentir e sentir...