segunda-feira, 15 de março de 2010

(In) sensibilidade


Já estamos bem conscientes do que tem ocorrido no mundo. Por menor que seja o interesse de alguém em manter-se atualizado, não tem jeito, os acontecimentos chegam até nossos ouvidos em um instante imperceptível. Sabemos que as pessoas andam por aí perseguidas pela violência, onde quer que estejam, castigadas pela fome, humilhadas pela miséria e pelo sofrimento, tão comuns no mundo em que estamos (sobre)vivendo. Se somos suficientemente humanos para desejar profundamente uma solução, não importa à que classe pertencemos... A, B, C (e por aí vai), somos massacrados também. Por ver a deplorável realidade das pessoas no Haiti, que vivem as consequencias de um desastre natural imensurável - caso não saiba, o haitianos tem comido "biscoitos de lama" que, devido a crescente necessidade, vem sofrendo um aumento de preço -, ou as vidas que se esvaem na África, por conta das doenças e da fome, por ver uma família sentada no asfalto, sem ter um lugar seguro e acolhedor para ir, quando sabemos que, assim que desejarmos, poderemos ir pra casa, descansar, nos recolher.

Mas sinto que muita gente se acostumou e se acomodou. Aprendeu a lidar com notícias ruins e a achá-las comuns. Já consegue passar pelo sinal de trânsito sem levar a imagem da criança que deveria estar na escola, mas que está lá, fazendo malabarismos para que, talvez, seus pais e seus irmãos possam se alimentar. Já consegue assistir aos jornais sem sentir-se ferido. Isso me preocupa. Porque a sociedade está deixando de ser humana, de ser gente, de sentir. E está tranformando-se em uma espécie diferenciada, que vive para si, acorda para si, trabalha para si e sente somente a si mesmo (se é que sente alguma coisa).

Temo pelas milhares de pessoas que necessitam de atendimento médico, mas que, por infelicidade, acabaram sendo levadas até um médico mercenário, preocupado com seu saldo bancário, com a cerveja e com o time de futebol. Temo pelos que precisam urgentemente serem ajudados por aqueles que possuem condições de ajudar, mas que não se manifestam, simplesmente porque isso não lhes convém. E tenho vontade, muita vontade, de fazer e ver diferente. Não quero fazer parte dessa nova sociedade, que sofreu uma mutação gênica e não enxerga mais que um palmo diante do seu nariz.

Eu quero ser diferente, porque não me encaixo nesse mundo hostil.

2 comentários:

disse...

Suas reflexões são atualissímas. Até quando viveremos assim, entre multidões, mais interessadas nas marcas que levam em seu corpo, do que na superação da dor daqueles que pouco ou nada possuem?!...

joao_imaginarium disse...

vc escreve tão bem . me assusta.