
Conheces plenamente, Pierrot,
Este sentimento voraz que em ti reside...
Que ele seja, então, firme, incontido.
E altere, inverta, destroce
O que a mim e a ti se apresenta:
Verdade crua e fria.
Perdido em devaneios, vês muito além
Do que isto que teus olhos emolduram!
Transmuta a realidade, por mim, por ti...
Oh! Não és tu um romântico?
Construa-a novamente sem temores,
Sob a tua perspectiva particular.
Mais vale esse mundo que criaste,
Estruturado sobre uma aquarela,
Do que a imagem desbotada
Que te invade a íris a cada manhã.
Estás com lágrimas petrificadas
Sobre o mármore que é a tua face,
Esboçando sorrisos intocados,
Inalterados até o temido choque:
Nada do que vês é verossímil!
Teu mundo de poesia,
Ao transbordar-te,
Não toma a forma do real.
Não há metamorfoses
provocadas por teus versos para além de ti.
Estará teu poema se negando
A misturar-se, unir-se, tornar-se
A verdade do que é dito ou visto?
Agora, contristado, és obrigado a enfrentar
Tuas próprias fronteiras, intransponíveis.
Papel ou mente de um ser onírico...
Pobres sois, crituras perdidas numa fantasia:
Colombina e Pierrot.
Ah, o amor!
Intacto, cristalizado.
Suportará o coração de um ingênuo sonhador,
constantemente a recuar-se, vê-lo em pedaços?
Eis o teu sentimento devastado!
As cores do teu mundo fogem pouco a pouco.
Finita a aquarela era, imaginária...
Quanto a ti, permaneces o mesmo...
Romanticamente Pierrot!